Todo mundo conhece pelo menos um trecho de uma marchinha de carnaval, um gênero musical que fez grande sucesso entre os foliões especialmente entre as décadas de 1920 e 1960. O gênero que combinava a cadência do ritmo da marcha portuguesa e letras divertidas acabou ficando de lado no carnaval devido a criação dos sambas-enredo que pesavam menos no orçamento das escolas de samba. Conheça mais sobre a história das marchinhas de carnaval e saber melhor o que elas são.
Trilha Sonora da Folia
A primeira metade do século XX foi povoada de marchinhas de grande sucesso, pois era muito difícil imaginar o carnaval sem essa trilha sonora. Podemos dizer que as marchinhas foram precursoras das atuais trilhas da folia como os trios elétricos da Bahia e os sambas-enredo do Rio de Janeiro e São Paulo. O gênero marchinha de carnaval surgiu no fim do século XIX.
A primeira marchinha foi “Abre Alas” composta por Chiquinha Gonzaga em 1889 para a escola de samba Rosas de Ouro. Esse estilo se caracteriza por fazer uma mistura da marcha portuguesa com instrumentos de sopro como trompete e saxofone, com alguma influência do jazz dos Estados Unidos.
Influência Portuguesa
Até o começo dos anos 1920 as marchas populares portuguesas tinham bastante sucesso no Brasil como as canções “Vassourinha” de 1912 e “A Baratinha” de 1917. As primeiras marchinhas brasileiras ainda tinham o ritmo mais calmo das marchas militaras binárias de Portugal. O ritmo foi acelerado devido à influência do jazz norte-americano como citamos acima. A composição de marchinhas para o carnaval teve início a partir dos anos 1920 e o Rio de Janeiro foi o seu principal berço.
Temas das Marchinhas de Carnaval
Para muitos historiadores as marchinhas de carnaval são caricaturas da sociedade brasileira. As letras dessas composições tinham bastante malícia com um humor sarcástico. Ouvindo com atenção as letras das marchinhas podemos identificar um retrato da sociedade brasileira com os seus costumes sendo questionados.
Algo curioso é que na época do auge das marchinhas não tinha espaço para o politicamente correto. Muitas das marchinhas, atualmente, podem ser consideradas inadequadas. As frases de duplo-sentido e as brincadeiras com qualquer coisa davam origem a letras que todos cantavam nos dias da folia.
Principais Compositores das Marchinhas de Carnaval
Dentre os nomes de destaque da composição de marchinhas de carnaval estão Lamartine Babo, Roberto Roberti, João Roberto Kelly, Haroldo Lobo, Braguinha, Ruth Amaral, Manoel Ferreira entre outros.
Auge do Sucesso e Queda da Popularidade das Marchinhas de Carnaval
Podemos observar uma distância considerável entre a composição da primeira marchinha, em 1889, e o seu sucesso que teve início na década de 1920. Durante algumas décadas era inconcebível imaginar o carnaval sem essas canções curtinhas. As marchinhas não saíram do destaque por uma questão de gosto e sim porque as escolas de samba não queriam mais pagar valores altos para os compositores para executá-las durante o carnaval. Mesmo depois dos anos 1960, quando o gênero teve a sua queda de popularidade, se manteve como parte do imaginário do carnaval.
Retorno nos Anos 80
Na década de 1980 algumas marchinhas foram regravadas ganhando uma sobrevida de sucesso. Um dos impulsos foi o uso da marchinha “Sassaricando” na voz de Rita Lee como tema da novela homônima. Nos últimos anos se observou uma tentativa de resgate das marchinhas com concursos para incentivar novos compositores e até mesmo projetos de regravações.
A História das Principais Marchinhas de Carnaval
Marcinha: Ó Abre Alas
Compositora: Chiquinha Gonzaga
História
Chiquinha Gonzaga foi pioneira em muitas coisas e também na composição de marchinhas. Ela compôs ‘Ó Abre Alas’ em 1889 quando tinha 52 anos para concorrer ao pleito do cordão de carnaval da Rosas de Ouro. A música de Chiquinha foi a vencedora e tinha características de canções que só seriam sucesso décadas mais tarde. Na primeira década do século XX essa música foi um dos principais sucessos do carnaval.
Marchinha: O Retrato do Velho
Compositores: Haroldo Lobo e Marino Pinto
História
A marchinha retrato do velho foi composta como um jingle publicitário para a campanha de Getúlio Vargas em 1950. Depois de passada a ditadura do Estado Novo Vargas desejava chegar ao cargo mais importante do país através do voto direto. A canção tinha como base o fato de retratos de Vargas serem colocados nas paredes das repartições públicas em reconhecimentos aos seus feitos em prol dos trabalhadores.
O jingle ajudou na eleição e se tornou uma marchinha de carnaval. Algumas pessoas cantavam essa marchinha também como uma maneira de demonstrar a sua indignação em relação à política. No ano de 1960 outro candidato a presidência usou uma marchinha para ajudar na eleição, Jânio Quadros com a sua “Varre, Varre Vassourinha”.
Marchinha: Cabeleira do Zezé
Compositores: João Roberto Kelly e Roberto Faissal
História
Essa que é uma das marchinhas mais famosas foi composta em 1964 em parceria entre o músico João Roberto Kelly e o ator e apresentador Roberto Faissal. Os dois amigos trabalhavam juntos na TV Excelsior e depois do trabalho frequentavam o bar São Jorge no qual trabalhava um garçom chamado José com um cabelo grande, algo não muito comum na época. O garçom chamou a atenção da namorada de Kelly que enciumado e com a ajuda do amigo Faissal começou a compor a canção.
A marchinha que foi motivada pelo ciúme de Kelly acabou se tornando uma das mais tocadas na época e nos dias de hoje quando o assunto é marchinha. É interessante destacar ainda que Kelly também é o compositor da marchinha “Maria Sapatão” que foi uma parceria com ninguém menos que o apresentador de TV Chacrinha.
Marchinha: Mulata Iê Iê Iê
Compositor: João Roberto Kelly
História
Outro dos grandes sucessos de Kelly essa marchinha é uma homenagem a Vera Lúcia Couto que entrou para a história como a primeira mulher negra a concorrer no concurso “Miss Brasil” em 1964. Vera que foi consagrada como Miss Guanabara despertou a admiração de Kelly por sua elegância ao desfilar e ele não resistiu em chama-la de “mulata bossa nova”.
Marchinha: Pierrot Apaixonado
Compositores: Noel Rosa e Heitor dos Prazeres
História
A base dessa marchinha é o triângulo amoroso (Pierrot, Arlequim e Colombina) mais famoso do mundo criado pela Commedia dell’Arte que foi um gênero teatral criado na Itália no século XVI. Nessa canção de Noel e Heitor conhecemos a história de Pierrot que é um serviçal pobre e um tanto inocente que acaba caindo de amores pela dama de companhia Colombina. O problema é que a moça só tem olhos para Arlequim que é um serviçal preguiçoso e debochado. Além dessa marchinha também tem a “Máscara Negra” de Zé Keti que foi composta em 1967 com a mesma temática.