Você já ouviu alguém falar “vou comer este último pedaço para não desperdiçar” ? Pois é. Quantas vezes ao longo da vida não ouvimos um parente, um colega de trabalho ou um amigo dizer que aquele pedaço de algum alimento que não deveria ser ingerido e talvez matar a fome de outra pessoa, foi colocado em seu organismo, para não perder.
Qual o sentido dessa economia e preservação de recursos? Comer algo além da conta para não eliminar de imediato não faz muito sentido.
Ultimo Pedaco
Vejamos: como além da conta, armazeno além da conta, fico mais pesado, minhas veias acabam por acumular gordura, meu sangue fica com excesso de açúcar e assim por diante. Serei obrigado a me exercitar mais para queimar aquele pedaço a mais de algo que foi ingerido para não desperdiçar.
O que desperdiço com tal atitude? Minha saúde física, e, por um problema físico futuro, minha saúde emocional e provavelmente a saúde emocional de algumas pessoas que me rodeiam e que “seguram as pontas” em momentos difíceis, que são os membros de minha família. Grande economia do pedaço de alimento não descartado.
Ouvi pela vida coisas do tipo “Deus castiga” pelo alimento não ingerido. Mas, um dos pecados não é a gula? Incoerente não? Incoerência é uma palavra que está muito presente em nosso viver.
Gula
Falamos de acordo com o nosso interesse do momento. Amanhã, talvez aquela fala não seja conveniente, aí viramos o sentido do texto.
Quando criança, convivi com uma senhora idosa que, com educação pautada ainda nos conceitos da santa inquisição, alimento desperdiçado servia de bônus para o ingresso no inferno.
Falando nessa palavra “quente”, nunca havia pensado na palavra inferno e na palavra enfermo. Fazendo uma graça com as palavras, o enfermo por ter sido guloso, acaba por viver um inferno em vida.
Partindo deste pré-suposto, o inferno seria comer além da conta, o que contradiz a idéia daquela antiga senhora.
Quantas vezes os pais falam para o filho adolescente que aquela cerveja a mais pode dar uma ressaca danada. Veja novamente a incoerência. O copo a mais de álcool causa problema imediato para o corpo, mas, o que dizer do pedaço exagerado de bolo com cobertura de chocolate e todo aquele recheio gostoso e venenoso? A arte da coerência entre o fazer e dizer não está sendo pintada em muita paisagem familiar no educar nossos filhotes.
Incoerencia
Aí quando crescem, queremos cobrar bom senso e outras palavras bonitas que não mostramos direito o significado. O triste disso tudo, é que nossos filhos podem não “acordar” para o fato e perpetuar a idéia de não passar o rascunho a limpo e continuar fazendo o que nós ou os seus avós fizeram. Não consigo entender!
Autor: Dirceu Pereira Mendonça
