Desmistificação da Sexualidade na Televisão

É curiosa a maneira como a cada dia, mais personagens homossexuais têm aparecido na teledramaturgia brasileira. Longe de ser uma conquista em prol da aceitação social, no entanto, tais personagens parecem estar ali apenas para fornecer material cômico à audiência, sem serem levados a sério.

Repentinamente, ser Gay é ser Engraçado

Esse traço, embora não seja uma característica puramente brasileira, têm uma aparição muito mais marcada em séries e telenovelas nacionais do que nos chamados “enlatados” estrangeiros. Um bom exemplo seria a novela Insensato Coração, onde há, de fato, uma boa quantidade de personagens homossexuais na trama – mas todos eles parecem estar ali para causar risadas, e pouca coisa mais.

A série Glee, no entanto, é uma boa referência no que se trata de dar vida a um personagem gay, sem estereotipá-lo de maneira cômica – ou, ao menos, parar sua caracterização apenas no estereótipo. Conhecida pelas músicas e também pela falta de continuidade em sua trama, a série surpreende ao conseguir tratar o tema tão delicado da sexualidade na adolescência, com uma sensibilidade raramente vista em um assunto que é quase tabu. O personagem Kurt foi, por toda uma temporada, o único a “sair do armário”. A princípio, bastante estereotipado, e certamente o alvo de muitas risadas, a partir do começo da segunda temporada, Kurt se humanizou, deixou de ser o menino que é delicado,  meigo e usa roupas de marca, para soar como um adolescente real, problemático, e em crise consigo mesmo e com o mundo – a raiz do que todo adolescente passa.

Bissexuais

Bissexuais

Seguindo Kurt, David Karofsky foi o próximo a mostrar conflitos: desta vez sem tanta certeza, revelando-se um bully em razão das próprias incertezas, ele certamente não é alvo de risos, nem tampouco um personagem purpurinado.

Blaine, um adolescente que tem uma crise sem saber se é, de fato, gay ou hétero; Santanna, a menina popular que tem a língua afiada, mas sofre por saber estar apaixonada pela melhor amiga; Brittany, que também ama a amiga, mas não deixa de amar seu namorado – todos são conflitos interessantes, doloridos, e que soam reais aos espectadores.

Sem tentar parecer apelativa ou de mau gosto, Glee dá uma lição àqueles que pensam que a maneira de apresentar a homossexualidade de personagens sem ferir a sensibilidade de seus telespectadores, é afeminá-los e envolvê-los em uma capa de humor barato.

Homossexualismo

Homossexualismo

Indo diretamente de encontro aos dilemas que tantos jovens – e até mesmo adultos – ao tratar de sua própria sexualidade, a série não deixa de ser engraçada, leve e divertida.

O humor escrachado, muito longe de favorecer o assunto que tenta abordar, causa ainda mais preconceitos e mistificação em torno do que tenta retratar.

A televisão brasileira deveria tomar uma aula com os produtores da Rede Fox.

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Categoria(s) do artigo:
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