A abertura da Copa de 2014 no Brasil foi um pouco decepcionante em relação ao show que se esperava, porém, alguns segundos mostraram que além do país do futebol podemos ser o país da ciência. Um dos itens que mais chamou a atenção nessa cerimônia foi o exoesqueleto utilizado por um paraplégico para que ele pudesse dar um chute simbólico numa bola da Copa e com isso dar início a festa.
https://www.youtube.com/watch?v=FnOO7Mq9eIcO exoesqueleto foi desenvolvido pela equipe do neurocientista Miguel Nicolelis que é brasileiro. Esse chute, que merecia ter tido mais destaque, foi dado na Arena Corinthians no dia 12 de junho de 2014. O escolhido para vestir o equipamento e dar esse pontapé inicial foi Juliano Pinto de 29 anos que tem paraplegia completa de tronco inferior e membros inferiores.
Piscou, Perdeu
Embora a cena do chute tenha sido bem rápida também teve uma boa repercussão de forma que a rapidez acabou dando mais manchetes para o exoesqueleto. Tudo começou com integrantes do projeto “Andar de Novo” entrando no campo com o voluntário já utilizando o exoesqueleto.
O jovem mostrou que o equipamento tem potencial dando um passo com a sua perna direita, ele movimentou a bola que foi pega por uma criança que estava caracterizado de árbitro. A equipe do neurocientista havia dito que seriam dados alguns passos com o equipamento, porém, na prática não deu para Juliano entrasse em campo pelo fato de que o exoesqueleto é muito pesado e poderia danificar o gramado.
A Reclamação
Nicolelis, o cientista que liderou o projeto, reclamou depois da festa que o chute simbólico foi muito rápido. O cientista contou que a FIFA disponibilizou apenas 29 segundos para fazer a demonstração do experimento, algo bem complicado para um equipamento de robótica enfatizou o cientista.
Com muito esforço de toda a equipe foi possível realizar em 16 segundos, entretanto, Nicolelis reclamou que a FIFA não estava preparada para filmar um experimento dessa magnitude.
O Voluntário
A realização do experimento na abertura da Copa de 2014 já havia sido divulgada muito tempo antes da festa, mas a identidade do voluntário foi mantida em segredo até o dia. O que se revelou a respeito dele no dia 12 de junho de 2014 é que seu nome é Juliano Pinto e ele tem 29 anos.
O voluntário em paraplegia completa de tronco inferior e membros inferiores, porém, o Nicolelis quis deixar como mensagem para pessoas que enfrentam as mesmas dificuldades de Juliano que sempre existe um caminho e que para a ciência e para quem sonha tudo é possível.
Como comemoração da realização do experimento com sucesso, mesmo com a rapidez, o cientista postou em sua conta no Twitter “We did it!!!!” (Nós conseguimos). Nicolelis fez questão de enfatizar que a realização não era só sua já que contou com uma grande equipe de pesquisadores e oito voluntários dentre os quais estava Juliano.
Equipe de Pesquisadores
Miguel Nicolelis é professor da Universidade Duke (EUA) e do Instituto Internacional de Neurociências de Natal – Edmond e Lily Safra (IINN-ELS) e esteve a frente de uma equipe que contou com mais de 156 pesquisadores de vários países para criar o exoesqueleto.
Como Funciona o Exoesqueleto
Para que esse exoesqueleto ofereça movimentos para aquele que o veste foi utilizada a “interface cérebro-máquina” que já é explorada pelo cientista brasileiro desde o ano de 1999. A ideia básica desse tipo de conexão é que a “força do pensamento” possa ter controle sobre um equipamento que está externo ao corpo.
Especificamente no caso desse exoesqueleto foi criada uma touca especial que tem a função de captar as atividades elétricas do cérebro por meio de eletroencefalografia. Dessa forma aquele que usa o traje deve se imaginar caminhando, com isso seu cérebro irá produzir sinais que serão coletados e encaminhados para um computador que está preso nas costas do exoesqueleto.
Esse computador faz a decodificação da mensagem e manda essa ordem então para os membros artificiais que então executam os movimentos que foram imaginados pela pessoa. Em paralelo a isso sensores que estão nos pés do voluntário mandam sinais para a roupa especial.
Esse voluntário então sente uma vibração nos seus braços sempre que a roupa robótica encosta no chão. Em suma é como se as sensações de tato dos pés fossem mandadas para os braços.
Os Testes Para o Chute Simbólico
Apesar de o chute simbólico ter durado apenas alguns segundos deu muito trabalho para que pudesse ser uma realidade no dia 12 de junho de 2014. A equipe do projeto chegou ao Brasil em março de 2014 e criou uma base de trabalho num laboratório da Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD).
Ao todo oito pessoas que fazem parte da AACD testaram o exoesqueleto. Já no dia 16 de maio, um pouco menos de um mês antes, o cientista anunciou pelo Facebook que os testes tinham ido bem, ele escreveu: “Depois de meses de treinamento, os últimos dois voluntários andaram com a ajuda do exoesqueleto e puderam desfrutar da sensação de andar de novo”. Nicolelis nomeou o exoesqueleto de “BRA-Santos Dumont I”.
Críticas do Trabalho
No meio científico para que uma pesquisa e seus resultados sejam validados é necessário que seja realizada uma experiência concreta e também que se informe a comunidade de cientistas a respeito do trabalho.
Bem antes de testar o exoesqueleto na Copa de 2014, Nicolelis, já havia publicado artigos em várias revistas científicas de renome e já havia realizado um experimento em que um macaco havia conseguido controlar o equipamento somente com a força do seu pensamento.
Os resultados do uso desse exoesqueleto em humanos ainda não foram publicados de forma que ainda não existe uma opinião formada a seu respeito na comunidade científica. A assessoria de imprensa da equipe do projeto divulgou que alguns meses depois da Copa serão publicados resultados em revistas especializadas.
Nicolelis deixou claro que a apresentação na Arena Corinthians foi apenas para o público, pois para os cientistas é necessário elaborar artigos completos e com um foco muito mais técnico que a emoção de ver uma pessoa paraplégica chutar uma bola, mesmo que em poucos segundos.