É Possível ser Feliz por Meio do Outro?

Não há como conceber o ser humano como solitário. Muitos podem contestar essa afirmação, dizendo que atualmente há muita gente que vive sozinha, e bem.

Entretanto, todos, mesmo os solitários, em algum momento de suas vidas já buscaram, ou ainda buscam, se relacionar com alguém, porque instintivamente nós somos seres gregários. Isso é inegável, mesmo porque até para nascer precisamos do outro. Agora, o que buscamos quando nos relacionamos com as pessoas?

Essa pergunta ainda é mais preemente nos tempos em que vivemos, em que os sites de relacionamento e as redes sociais fazem parte, cada vez mais, do nosso cotidiano. Alguém já parou para pensar porque fazem tanto sucesso? Justamente porque todos nós buscamos nos relacionamentos, adquirir novas experiências e vivências.

Feliz

Sim, hoje há muitas maneiras de nos relacionarmos, de nos conhecermos. É inegável que há muito mais liberdade, mas o que estamos fazendo com essa liberdade? Basta lembrar que há algumas décadas, os relacionamentos afetivos eram caracterizados por uma série de imposições.

Havia os relacionamentos marcados pelos interesses dos mais variados. E aquelas mulheres que não casassem? Quantos preconceitos sofriam. Era um tempo de estereótipos muito rígidos em que o homem ocupava o papel do provedor, enquanto à mulher cabia o papel de cuidar do lar.

O tempo foi tornando esses papéis cada vez mais difusos e, com isso, os desafios passaram a ser maiores. Se antes havia uma visão hipócrita de casal feliz, a de hoje qual seria? Como seria manter um relacionamento feliz hoje?

Com tanta liberdade de se relacionar e de não se envolver completamente com ninguém, é incrível quantas pessoas ainda se perdem nos relacionamentos.

É muito comum, por exemplo, encontrar pessoas que insistem em manter relacionamentos que não as satisfazem, simplesmente porque não querem magoar o parceiro ou parceira, porque se apegam à família da esposa ou marido, ou simplesmente, porque têm medo de ficar sozinhas.

Outras pessoas se relacionam com base na posse. Essas pessoas mal conhecem uma pessoa e, por serem inseguras, acabam já querendo se intrometer rapidamente na vida pessoal do parceiro ou da parceira, e exigem um compromisso muito rapidamente, o que acaba sufocando a outra parceiro ou parceiro.

Normalmente, essas pessoas esquecem que, como tudo na natureza, tudo tem seu tempo certo. E se relacionar exige tempo para um conhecer o outro, afinal, são dois universos diferentes, duas vidas diferentes que se propõe a construir algo em comum. Nesse período, é muito importante respeitar a individualidade de cada um, entender que cada um precisa ter um tempo sozinho, com os amigos.

Relacionamento

Até porque ninguém tem certeza de que ficará uma com a outra pelo resto da vida. Independentemente de tudo, temos que conhecer outras pessoas e se isso for respeitado, certamente a própria relação a dois ganhará mais força. Um relacionamento não pode se transformar numa anulação.

Outro fator que não pode ser deixado de lado são os sinais que surgem durante os anos de relacionamento, principalmente na fase do namoro, em que começam a se perceber algumas fraquezas e alguns defeitos. Isso, sem dúvida, não pode deixar de ser considerado. É bom ficar atento, para não perceber isso depois que o relacionamento já caminha para um casamento.

Outro fator que é muito perigoso é o de criar muita expectativa em torno de um relacionamento. Há aí um componente cultural muito forte. Essas pessoas buscam o relacionamento perfeito, o famoso “e viveram felizes para sempre”. Isso é muito perigoso, pois ninguém tem obrigação de nos fazer felizes.

Se nós formos analisar bem, veremos que essa ideia de termos a responsabilidade de fazer o outro feliz é um fardo muito grande. Essa “procuração” que damos para o outro é uma barra pesada.

Respeito às Individualidades

O psiquiatra Flávio Gikovate, que estuda há muitos anos essas questões, acredita que aquela concepção que ainda existe de que devemos procurar no outro o nosso complemento, é muito perigosa de ser levada adiante hoje em dia.

Para ele, que recentemente publicou o livro “Uma nova visão de amor”, se antigamente era necessário que um dos componentes do casal tinha que fazer grandes concessões para que o casal ficasse junto, hoje essa fórmula já não tem tanto êxito, pois para o psiquiatra, atualmente as pessoas são mais individualistas e, por isso, é preciso respeitar as diferenças.

Outro enfoque interessante sobre essa questão refere-se ao ponto de vista da Associação de Psicologia Positiva da América Latina. Segundo sua presidente Daniela Levy, a chamada psicologia positiva ajuda muito a entender o caminho de um relacionamento feliz.

Para ela, é fundamental se comunicar positivamente, pois é essencial para manter casamentos. Ela diz que quem conserva bons relacionamentos ganha muito com a interação e o apoio do outro.

Também lembra que quando somos amados incondicionalmente, nos tornamos mais seguros e, consequentemente, arriscamos mais. O casamento, para ela, não pode ser um sacrifício ou acomodação, pois isso resulta em infelicidade e frustração. Para Daniela, não tem coisa pior do que saber que o outro, ou a outra, está com você simplesmente porque precisa de você e não porque quer.

Casamento

Outro ponto é não cair na onda de achar que o casamento, por si só, garante uma maior intimidade. Na realidade, a intimidade deve ser cultivada às custa de muita confiança e respeito, enfim, deve ser conquistada. Para Daniela, uma relação se consolida quando se olha para o passado e vê os momentos bons que passaram um com o outro e, o mais importante, quando se cultiva a gratidão.

Como se vê, a busca da felicidade, por meio do relacionamento, não é algo muito simples e a fórmula é muito complexa. Tem um trecho de uma música composta por Gilberto Gil, “Amar atá o fim”, gravada por Elis Regina, que espelha bem que todo relacionamento que almeja a felicidade precisa, sobretudo, ser renovado. “(…) o amor é como a rosa no jardim, a gente cuida, a gente olha, a gente deixa o sol bater…”

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Categoria(s) do artigo:
Comportamento

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